Dr. Bruno Freitas da Silva nasceu em Belo Horizonte, Minas Gerais, e viveu boa parte de sua vida em busca de respostas que só foram reveladas após uma reviravolta inesperada. Advogado criminalista com mais de 15 anos de experiência e professor universitário há quase uma década, ele enfrentou desafios profundos, equilibrando a vida pessoal e profissional, enquanto lutava contra uma sensação persistente de inadequação. E tudo mudou quando, aos 40 anos, Bruno descobriu algo que transformaria sua perspectiva para sempre: ele é autista.

“Durante 40 anos da minha vida, me senti uma pessoa incapaz de realizar as coisas. Sempre achei que os outros eram melhores do que eu,” conta Bruno, lembrando as lutas internas que carregou por décadas. Para ele, pequenos gestos como cumprimentar alguém ou acompanhar o ritmo dos outros nunca foram naturais. Os desafios pareciam sem explicação, e a sensação de ser “preguiçoso” ou “mal educado” o acompanhou desde cedo, marcando suas interações sociais e a visão que os outros tinham dele.

Como muitos que sentem que “não se encaixam,” Bruno cresceu em um cenário onde suas singularidades o faziam se destacar — e não necessariamente de forma positiva. “Passei a vida tentando entender por que a maioria das pessoas conseguia realizar ações que, para mim, pareciam impossíveis. Na minha cabeça, a única justificativa era a incapacidade.” Essa dúvida interna era constante e permeou anos de sua vida, mesmo enquanto conquistava o título de advogado, formava uma família e construía uma carreira como professor.
Bruno fala com emoção sobre as conquistas que o ajudaram a se sentir, ao menos exteriormente, “normal” aos olhos dos outros: casou-se duas vezes, teve três filhos e avançou na carreira. Mas o vazio persistia. Era uma busca silenciosa por algo que ele não conseguia nomear. Até que, no dia 23 de setembro de 2023, tudo mudou. “Esse foi o dia da minha libertação,” diz, ao relembrar o momento em que, com o diagnóstico de autismo, finalmente sentiu que tinha encontrado as respostas que procurava.
Esse momento, segundo ele, foi um divisor de águas: “Eu entendi que não era incapacidade, não era preguiça. Esse foi um dos dias mais felizes da minha vida, porque tive a certeza de que eu era capaz de realizar o que desejasse.” Com uma nova perspectiva, ele agora se enxerga de maneira positiva e capaz, experimentando a sensação de poder trilhar um caminho com segurança e propósito. Para Bruno, isso é “grandioso”.
Além da transformação pessoal, o diagnóstico trouxe também um novo sentido à sua vida profissional. Bruno já era pai de dois filhos autistas, mas, agora, entende o papel que a sua própria experiência pode ter para eles e para outras pessoas no espectro. “Hoje vejo como Deus foi maravilhoso comigo, pois ele me preparou, por quatro décadas, para que eu pudesse ter a capacidade de cuidar e orientar meus dois filhos autistas”, afirma com gratidão.
Uma missão de vida: lutar pelos direitos dos autistas
Esse diagnóstico não só trouxe alívio e autoconhecimento, mas também uma missão. A partir daquele momento, Dr. Bruno Freitas passou a estudar os direitos das pessoas com autismo, ficando surpreso com a quantidade de benefícios previstos na legislação brasileira. Esses direitos vão desde a redução de jornada para funcionários públicos autistas ou com filhos no espectro, até isenção de impostos, como o IPVA, gratuidade em viagens interestaduais, desconto em passagens aéreas, saque do FGTS para custeio de tratamento, direito de emprego em vaga PCD. “É um direito básico, mas que muitos desconhecem, como o direito ao atendimento prioritário e o acesso à educação inclusiva,” explica Bruno.
Ele também se impressionou com os direitos previdenciários, que garantem, por exemplo, pensão por morte vitalícia e aposentadoria especial por idade para autistas. O direito à saúde, outro aspecto fundamental, assegura o acesso aos tratamentos e medicamentos prescritos, enquanto no campo assistencial o Benefício de Prestação Continuada (BPC) é um apoio essencial para famílias em situação de vulnerabilidade.
Dr. Bruno enfatiza que conhecer os direitos é fundamental, pois muitos ainda desconhecem o que podem acessar para melhorar suas vidas. Com o desejo de ajudar outras famílias e garantir que os direitos sejam respeitados, ele agora está determinado a usar sua experiência pessoal e profissional para levar dignidade e inclusão às pessoas no espectro.
“Estou nessa luta! Não quero que meus filhos passem pelo que passei. Vou fazer com que a sociedade nos enxergue, nos respeite e nos acolha,” conclui Dr. Bruno. Sua jornada mostra que o autoconhecimento, o diagnóstico e a empatia podem transformar vidas e abrir caminhos para uma sociedade mais justa e inclusiva para todos.