O dia 7 de outubro de 1984 marcou o início de uma verdadeira revolução na medicina reprodutiva no Brasil. Foi nessa data que nasceu Anna Paula Caldeira, o primeiro bebê concebido por Fertilização In Vitro (FIV) no país. O procedimento aconteceu seis anos após o pioneirismo mundial da FIV no Reino Unido. Agora, em 2024, celebramos quatro décadas desse avanço tecnológico, que ampliou o acesso e aumentou as chances de sucesso no tratamento de infertilidade. Desde o nascimento de Anna Paula, os progressos na reprodução assistida foram notáveis.

As medicações para estimular a ovulação evoluíram, assim como as técnicas para obtenção de óvulos e a cultura embrionária. “Por exemplo, o procedimento original era realizado em ciclo natural, sem hormônios, permitindo a recuperação de apenas um óvulo. Hoje, com o uso de medicamentos, é possível obter mais óvulos, o que aumenta significativamente a taxa de nascidos vivos por tratamento”, explica a Dra. Paula Andrea Navarro, presidente da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana e professora da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto, em entrevista para a Organon, empresa global de saúde com foco no desenvolvimento de medicamentos para mulheres.

Se no início o foco era principalmente na mulher, os avanços para o tratamento da infertilidade masculina também chegaram com o tempo. Em 1992, foi introduzida a injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI), revolucionando o tratamento para homens com infertilidade severa. “A ICSI permite que um único espermatozoide seja injetado diretamente no óvulo. O tratamento traz esperança da paternidade e permite que o sonho da maternidade se torne real”, destaca Dra. Paula.
Outro avanço significativo foi a criopreservação de embriões e gametas, possibilitando que mulheres congelem seus óvulos com segurança, especialmente aquelas que precisam ou desejam adiar a maternidade. A técnica busca oferecer taxas de nascidos vivos comparáveis às dos óvulos frescos, dependendo do número de óvulos e da idade da mulher no momento do congelamento. Com quatro décadas de evolução, a FIV continua a avançar. Segundo a Dra. Paula, o futuro aponta para o uso de tecnologias de edição gênica, com o objetivo de melhorar a qualidade dos embriões.
Embora o tratamento tenha progredido muito no setor privado, ele ainda enfrenta barreiras no Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com a Dra. Paula, menos de 5% dos procedimentos de reprodução assistida são realizados em serviços públicos, embora o número de centros privados tenha crescido. “Instituir no SUS uma Política Nacional de Atenção Integral em Reprodução Humana Assistida deveria ser uma prioridade, considerando o quão devastador pode ser o impacto da infertilidade para a vida das pessoas, o quão prevalente é esta condição, que afeta 1 em cada 6 pessoas em idade reprodutiva, e que o custo elevado destas terapias impossibilita o seu acesso a grande maioria das pessoas”, comenta.
Hoje, segundo a Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA), cerca de 8 milhões de indivíduos no Brasil podem ser afetados pela infertilidade, um número que reforça a importância dos avanços contínuos na reprodução assistida.