O Grande Prêmio de São Paulo foi atípico em muitos sentidos, a começar pelas condições climáticas, com chuvas isoladas e de intensidade variada, além da onda de frio incomum para a época do ano, o que afetou o desempenho dos pneus macios reportados pelos pilotos, tornando a estratégia de corrida um “quebra-cabeça” para as equipes.
E o fim de semana incomum trouxe também resultados surpreendentes, com a exceção do desempenho dominante de Lando Norris, que já no único treino livre de sexta-feira deixou claro que chegou ao Brasil disposto a cumprir sua missão de repetir o resultado obtido no México.
E não só repetiu como superou. Norris foi o melhor em tudo: faturou o TL, as poles position e as vitórias nas duas corridas do fim de semana. Com isso abocanhou mais 33 pontos e ampliou a vantagem no Mundial em 24 sobre Oscar Piastri, que teve um fim de semana que taxou de “estranho” ao sair de Interlagos com apenas 10 pontos, decorrentes do quinto lugar na prova principal, depois de ter amargado um abandono na sprint, na véspera.
Bortoleto frustrado
A etapa em São Paulo também frustrou a estreia de Gabriel Bortoleto no Brasil pela Fórmula 1. O piloto da Sauber estava entusiasmado para se apresentar pela primeira vez diante da torcida brasileira, que compareceu em massa e foi a maior responsável pelo novo recorde de público em Interlagos, com 303.627 pessoas presentes no autódromo, nos três dias de atividades.
Depois de assustar os fãs ao bater forte na última volta da corrida sprint, Gabriel abandonou o GP logo na primeira volta, ao se envolver em um toque com Lance Stroll, mais uma vez decepcionando a torcida, que esperava um bom resultado em casa após sua classificação em quinto lugar no treino livre.
Mas o estreante, que trouxe o Brasil de volta ao grid na F1, está totalmente perdoado. Afinal, ele não foi o único piloto em uma estreia local ruim: Massa e Rubinho bateram na primeira corrida no Brasil. Piquet não finalizou e Senna também não completou. Talvez seja a “tradição” da primeira corrida em casa pela qual todo novato brasileiro passa.
Ferrari tem duplo abandono
Também não foi um fim de semana fácil para os pilotos da Ferrari. Hamilton, que divide com Bortoleto e Esteban Ocon o carinho especial dos fãs brasileiros, correu com um capacete inspirado em Ayrton Senna, simulando o sonho que o eterno ídolo tinha de correr pela Ferrari, mas não conseguiu desempenhar a homenagem como planejou.
O heptacampeão mundial conseguiu apenas o sétimo lugar na sprint, sofreu uma eliminação no Q2, e para completar abandonou o Grande Prêmio devido a colisões com Carlos Sainz e Franco Colapinto.
Charles Leclerc, por sua vez, foi vítima de um incidente envolvendo Kimi Antonelli e Oscar Piastri no S do Senna, e também não completou a prova. Com o duplo abandono, a Ferrari saiu do Grande Prêmio de São Paulo sem pontos.
O heróico Verstappen
Em se tratando de resultados inesperados em Interlagos, sem dúvida o maior deles foi protagonizado por Max Verstappen, ao fazer uma corrida de recuperação magistral, que terminou direto no pódio após largar dos boxes.
A largada do pit lane foi imposta após um desempenho ruim na classificação, onde ele foi eliminado já no Q1 (outra situação atípica e a pior em quatro anos), com a Red Bull optando então por fazer ajustes no carro.
Em uma atuação memorável, ele até mesmo conseguiu chegar na ponta, mas abdicou da liderança temporária da corrida ao fazer a segunda troca de pneus na volta 55, uma decisão estratégica que gerou discussões.
Isso pode ter lhe custado a chance de vitória e de se tornar o primeiro piloto de F1 a vencer um Grande Prêmio em Interlagos saindo dos boxes direto para o lugar mais alto do pódio. Não aconteceu, porém ele escreveu em São Paulo mais um capítulo na história da F1 pelo feito grandioso.
A redenção de Antonelli
Após um início de temporada de resultados inconsistentes, Andrea Kimi Antonelli voltou a mostrar talento nas corridas fora da Europa. O jovem italiano completou a missão com estilo no domingo, pilotando de forma impecável, garantindo o segundo lugar (melhor resultado na carreira) e também o segundo pódio na Fórmula 1. Isso confirma por que a Mercedes e Toto Wolff continuam acreditando em sua estrela para o futuro.
Essa foi para o Gil
Ao aumentar a intensidade da briga pelo título no final da temporada, o GP de São Paulo adicionou um elemento extra de drama ao campeonato.
E Lando Norris, mais líder que nunca, dedicou sua primeira vitória no Brasil a Gil de Ferran e disse que o brasileiro foi seu mentor dentro da McLaren.
“Foi uma corrida incrível e espero que ele esteja muito orgulhoso”, declarou o britânico, em gesto gigante de quem reconhece quem o guiou no caminho até o topo.
