No mundo do automobilismo de alta velocidade, onde milésimos de segundo separam a vitória da derrota, o preparo físico exaustivo e a engenharia de ponta dos carros já não são os únicos diferenciais na definição de um campeonato.
Pilotos como Rafael Câmara (atual campeão mundial da Fórmula 3 e já apontado como a futura promessa da Fórmula 1) e o brasiliense Felipe Nasr (tricampeão do IMSA pela Porsche Penske) têm algo a mais em comum, além de brilhar nas pistas e vencer campeonatos.
Ambos contam com o auxílio do psicólogo clínico e esportivo Pedro Lôbo para cuidar da saúde mental, considerada igualmente crucial para um desempenho dominante nas competições.
Residindo em Brasília, onde atende presencialmente e também online, o profissional utiliza técnicas de treinamento da mente para resultados de alta performance.
Bastante conhecido no cenário esportivo, Pedro Lôbo possui uma vasta lista de pilotos entre sua clientela. Além de Câmara e Nasr, figuram estrelas como Felipe Drugovich, César Ramos, Pedro Clerot, Zezinho Muggiati, Allam Khodair, Kiko Porto, Werner Neugebauer e Arthur Leist, entre outros competidores de diferentes categorias.
Pressão extrema
e concentração
“Entre os esportes que eu acompanho, o automobilismo é sem dúvida um dos mais estressantes porque, para ser campeão no ano, você precisa buscar o equilíbrio e otimizar a performance em todas as etapas para tentar conquistar cada ponto”, destaca Pedro Lôbo, acrescentando que a capacidade de manter a concentração é fundamental.
Em velocidades que chegam a ultrapassar os 300 km/h, um piloto precisa tomar decisões em frações de segundo, processando uma enorme quantidade de informações, como a condição da pista, a posição dos adversários e os dados do carro.
“São tantas as variáveis com que o piloto precisa lidar que a pressão é inevitável. No entanto, tudo fica mais fácil com a ajuda de um profissional, pois ele passa a conseguir gerenciar melhor seus sentimentos, emoções e pensamentos, e se concentrar no que está acontecendo naquele exato momento para agir rapidamente”, explica.
O método “1% Mindfulness” é utilizado pelo psicólogo para treinar o piloto a estar com a sua atenção totalmente focada no exato instante, evitando que a mente entre no ‘modo automático’ de pensamentos distrativos ou preocupações.
Gestão do Estresse
A pressão no automobilismo não dá trégua. “Na Fórmula 1 são 24 corridas na temporada, na Fórmula 2 são 14 e na Fórmula 3 são 10. Então é preciso uma gestão de estresse o ano inteiro”, destaca Pedro Lôbo.
Isso exige que o acompanhamento do piloto também seja contínuo. “Esse trabalho se dá de várias formas. Normalmente, toda semana a gente tem um encontro online, uma vez que eu sou de Brasília e a maioria dos atletas está fora do País ou em outros estados brasileiros. No final de semana de corrida a a gente se fala na sexta-feira em uma sessão pré prova e também no dia, antes de ir para a pista. Se preciso, voltamos a nos falar após o treino, caso alguma coisa tenha tirado o piloto do foco. Antes da corrida também conversamos um pouco, às vezes meditamos e praticamos juntos técnicas de respiração. E então seguimos dessa forma até o final do campeonato“, explica.
Com alguns atletas, no entanto, o psicológico consegue realizar um trabalho presencial, na pista. “Então eu o acompanho no final de semana inteiro; chego às vezes dois dias antes no local e isso torna tudo mais dinâmico, pois o fato de estarmos lado a lado nos permite um ajuste ainda melhor. Eu observo não só ele, mas o ambiente da equipe, a relação do piloto com o engenheiro, com chefe de equipe, com o empresário. Ou seja, fico totalmente imerso na realidade do piloto, e com isso consigo ajudá-lo a ter uma visão melhor de si e do que está acontecendo ao redor, para que possamos extrair sua melhor performance”, conclui Lôbo, enfatizando que um bom estado mental otimiza a comunicação entre o piloto e a equipe, que assim consegue definir melhor as estratégias de corrida.
“Sozinho a gente vai até um certo lugar, como parte da própria limitação humana. Mas, com outro, podemos ir sempre além.
Tendo alguém ao seu lado, ajudando a se conhecer, se perceber e se enxergar melhor, o caminho fica mais fácil. Não que não haja desafios, mas juntos a gente vai mais longe”, conclui.