Natasha Dal Molin
Especial para o Jornal de Brasília
A um ano e dois meses para início dos Jogos Olímpicos, as obras da Vila Olímpica, que receberá os 10.500 atletas de mais de 200 países, seguem o cronograma. Com 80% de conclusão, o Ilha Pura – como é batizado o local que abrigará a Vila – fica na Barra, Zona Oeste do Rio, e tem metade das unidades disponibilizadas vendida.
Após os jogos, sairão os atletas e as delegações e a área de mais de 800 mil metros quadrados se transformará em mais um bairro de luxo carioca.
O complexo erguido pelas construtoras Carvalho Hosken e Odebrecht abrigará 31 prédios residenciais, divididos em sete condomínios, com 3.604 apartamentos de dois, três e quatro quartos, que estão sendo vendidos por valores que vão de R$ 650 mil a R$ 3 milhões.
Substituir os atletas por “moradores comuns” está longe de ser novidade. Tem sido assim por onde a Olimpíada passa – em Londres, em 2012, ocorreu desta forma.
No Brasil, porém, a experiência mais recente não traz boas recordações. A Vila do Pan, complexo utilizado pelos atletas do Pan-Americano de 2007, se transformou numa enorme dor de cabeça aos moradores dos 17 prédios.
Ciente dos entraves no projeto do Pan 2007, o diretor geral do Ilha Pura, Maurício Cruz Lopes, adianta: “Não é possível fazer comparação. A única coisa em comum entre a Ilha Pura e a Vila do Pan é o fato de receberem atletas por um período.”
O Ilha Pura promete o que há de mais moderno em sustentabilidade e acessibilidade. Isso porque o nível de exigência dos atletas e delegações em relação às instalações tem aumentado com o passar dos anos.
Com projeto paisagístico do escritório Burle Marx, o bairro terá apenas plantas nativas, cultivadas em um viveiro construído ao lado do local. São 163 espécies que não precisarão ser transportadas por longas distâncias, evitando a poluição por dióxido de carbono. Duas usinas de concreto foram instaladas. Somada a outras práticas sustentáveis, o bairro deixou de emitir 39 mil toneladas de gás carbônico.
Saiba mais
A Olimpíada é o maior evento esportivo do planeta.
Os jogos acontecem a cada quatro anos.
A próxima edição será realizada de 5 a 21 de agosto de 2016, no Rio de Janeiro.
Outras cidades receberão jogos de futebol. Brasília é uma delas.
São 42 modalidades esportivas diferentes.
Entraram para esta edição dos Jogos do Rio as modalidades golfe e rúgbi.
Retração do mercado não assusta
A crise do setor imobiliário do país – com preços estagnados, obras paradas e uma retração nas vendas em torno de 35% no último ano – se reflete no Ilha Pura, que começou a colocar os apartamentos à venda este ano.
Os impactos são sentidos, mas a avaliação é que, com a proximidade dos Jogos, o negócio seja alavancado. “Existe uma retração no mercado brasileiro como um todo, na indústria e no comércio, e não só no mercado imobiliário”, avalia o diretor geral do Ilha Pura, Maurício Cruz Lopes.
Como os investimentos são mais em longo prazo, ele acredita que as vendas irão se acentuar com a proximidade da Olimpíada. “O impacto que estamos sofrendo nesse ano de 2015 certamente será recuperado. Estamos vendendo e os clientes estão muito felizes. A partir do segundo semestre, com a intensificação das notícias sobre as Olimpíadas, a Vila Olímpica… Tenho certeza que as atenções vão se voltar para o bairro e isso vai ajudar bastante”, analisa, otimista.
Os apartamentos estão sendo comercializados aos poucos. As vendas começaram em outubro, com os imóveis de menor metragem. Nos oito meses foram colocadas 600 unidades à venda e a metade foi efetivamente vendida.
A maioria dos compradores é de brasileiros, residentes do próprio Rio de Janeiro. A metade é de moradores da Barra da Tijuca. De acordo com os responsáveis pelo Ilha Pura, o perfil os compradores tem sido de pessoas que adquirem para presentear um filho que acabou de se formar na faculdade, ou pessoas de outros bairros interessadas em um up-grade habitacional.
“Foi feito um estudo de demanda e verificamos que a cidade cresce nesta direção: Barra/Recreio. E a tendência é sempre crescer, as pessoas casam, têm filhos, se divorciam… E o nosso plano prevê esse crescimento”, assegura Maurício.
Os problemas estruturais da obra da Vila do Pan começaram a aparecer cedo, logo após a saída dos atletas e a entrega dos imóveis aos moradores, que investiram de R$ 97 mil a R$ 390 mil em cada apartamento. As calçadas e ruas internas tiveram rebaixamento de mais de dois metros no solo, o que ocasionou rachaduras gigantes, principalmente nas garagens. Até a Defesa Civil foi chamada.