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Vila Olímpica se prepara para pós-atletas

Arquivo Geral

06/06/2015 11h08

Natasha Dal Molin

Especial para o Jornal de Brasília

A um ano e dois meses para início dos Jogos Olímpicos, as obras da Vila Olímpica, que receberá os 10.500 atletas de mais de 200 países, seguem o cronograma. Com 80% de conclusão, o Ilha Pura – como é batizado o local que abrigará a Vila – fica na Barra, Zona Oeste do Rio, e tem metade das unidades disponibilizadas vendida.

Após os jogos, sairão os atletas e as delegações e a área de mais de 800 mil metros quadrados se transformará em mais um bairro de luxo carioca. 

O complexo erguido pelas construtoras Carvalho Hosken e Odebrecht abrigará 31 prédios residenciais, divididos em sete condomínios, com 3.604 apartamentos de dois, três e quatro quartos, que estão sendo vendidos por valores que vão de R$ 650 mil a R$ 3 milhões.

Substituir os atletas por “moradores comuns” está longe de ser novidade. Tem sido assim por onde a Olimpíada passa – em Londres, em 2012, ocorreu desta forma. 

No Brasil, porém, a experiência mais recente não traz boas recordações. A Vila do Pan, complexo utilizado pelos atletas do Pan-Americano de 2007, se transformou numa enorme dor de cabeça aos moradores dos 17 prédios.

Ciente dos entraves no projeto do Pan 2007, o diretor geral do Ilha Pura, Maurício Cruz Lopes, adianta: “Não é possível fazer comparação. A única coisa em comum entre a Ilha Pura e a Vila do Pan é o fato de receberem atletas por um período.”   

O Ilha Pura promete o que há de mais moderno em sustentabilidade e acessibilidade. Isso porque o nível de exigência dos atletas e delegações em relação às instalações tem aumentado com o passar dos anos.

Com projeto paisagístico do escritório Burle Marx, o bairro terá apenas plantas nativas, cultivadas em um viveiro construído ao lado do local. São 163 espécies que não precisarão ser transportadas por longas distâncias, evitando a poluição por dióxido de carbono. Duas usinas de concreto foram instaladas. Somada a outras práticas sustentáveis, o bairro deixou de emitir 39 mil toneladas de gás carbônico.

Saiba mais

A Olimpíada é o maior evento esportivo do planeta.

Os jogos acontecem a cada quatro anos.

A próxima edição será realizada de 5 a 21 de agosto de 2016, no Rio de Janeiro. 

Outras cidades receberão jogos de futebol. Brasília é uma delas. 

São 42 modalidades esportivas diferentes.

Entraram para esta edição dos Jogos do Rio as modalidades golfe e rúgbi. 

Retração do mercado não assusta

A crise do setor imobiliário do país – com preços estagnados, obras paradas e uma retração nas vendas em torno de 35% no último ano – se reflete no Ilha Pura, que começou a colocar os apartamentos à venda este ano.

Os impactos são sentidos, mas a avaliação é que, com a proximidade dos Jogos, o negócio seja alavancado. “Existe uma retração no mercado brasileiro como um todo, na indústria e no comércio, e não só no mercado imobiliário”, avalia o diretor geral do Ilha Pura, Maurício Cruz Lopes. 

Como os investimentos são mais em longo prazo, ele acredita que as vendas irão se acentuar com a proximidade da Olimpíada. “O impacto que estamos sofrendo nesse ano de 2015 certamente será recuperado. Estamos vendendo e os clientes estão muito felizes. A partir do segundo semestre, com a intensificação das notícias sobre as Olimpíadas, a Vila Olímpica… Tenho certeza que as atenções vão se voltar para o bairro e isso vai ajudar bastante”, analisa, otimista.

Os apartamentos estão sendo comercializados aos poucos. As vendas começaram em outubro, com os imóveis de menor metragem. Nos oito meses foram colocadas 600 unidades à venda e a metade foi efetivamente vendida. 

A maioria dos compradores é de brasileiros, residentes do próprio Rio de Janeiro. A metade é de moradores da Barra da Tijuca. De acordo com os responsáveis pelo Ilha Pura, o perfil os compradores tem sido de pessoas que adquirem para presentear um filho que acabou de se formar na faculdade, ou pessoas de outros bairros interessadas em um up-grade habitacional.

“Foi feito um estudo de demanda e verificamos que a cidade cresce nesta direção: Barra/Recreio. E a tendência é sempre crescer, as pessoas casam, têm filhos, se divorciam… E o nosso plano prevê esse crescimento”, assegura Maurício.

No Pan, sonho virou pesadelo

Os problemas encontrados na Vila do Pan, entregue em 2007, ganharam os noticiários nos últimos anos. As denúncias do descaso com o bairro e com os imbróglios da região estavam no centro do impasse entre o governo e a construtora responsável pelas obras. 
 
Antônio Cajueiro, sub-síndico do Parque América do Norte, que reúne cinco prédios da Vila do Pan e mais as áreas de uso comum, explica que os problemas começaram assim que os moradores receberam os apartamentos, com aspectos do projeto – como o sistema de irrigação e cabeamento para televisão a cabo – inoperantes, além dos problemas estruturais da obra. “Mas a parte que mais nos preocupou mesmo foi o rebaixamento do solo, visível já nos primeiros meses”, destaca, por telefone, ao Jornal de Brasília. 
 
Após longos oito anos, porém, a solução começa a aparecer. Segundo Cajueiro, o prefeito Eduardo Paes prometeu a recuperação de 25 mil metros quadrados de vias, com reforço e estabilização do solo através de estacas e tabuleiros em laje de concreto armado.
 
O publicitário Jarbas Binha, 52 anos, comprou um apartamento na Vila do Pan para tê-lo como uma casa de veraneio, mais próximo à praia, com o intuito de surfar. Mas logo viu o sonho de ter um imóvel de qualidade indo por água abaixo.
 
“Nós todos do condomínio passamos por uma situação muito constrangedora por causa de um projeto que era para ser um sonho e acabou se tornando um pesadelo”, afirma o morador. Toda a rua da frente do prédio dele cedeu, até próximo ao portão de entrada. “Diante do impasse com a construtora responsável, a prefeitura acabou assumindo e já arrumou as ruas mais prejudicadas e agora parece que também vai fazer reparos no entorno da Vila. Agora esperamos que as promessas sejam cumpridas”, destaca o proprietário, que tenta alugar o imóvel. 
 
Levantamento feito pelo Sindicato da Habitação do Rio de Janeiro (Secovi Rio) apontou para uma depreciação nos imóveis da Vila do Pan de -0,3%. Informalmente, os condôminos dizem que a média de preços dos apartamentos é mais ou menos a metade em relação a outros imóveis em bairros similares. 
 
Saíram os atletas, entrou o problema

Os problemas estruturais da obra da Vila do Pan começaram a aparecer cedo, logo após a saída dos atletas e a entrega dos imóveis aos moradores, que investiram de R$ 97 mil a R$ 390 mil em cada apartamento. As calçadas e ruas internas tiveram rebaixamento de mais de dois metros no solo, o que ocasionou rachaduras gigantes, principalmente nas garagens. Até a Defesa Civil foi chamada.
 
A falta de solução se arrastou por anos, porque a construtora responsável pela obra – que segundo o Ministério Público já é ré em dois processos na Justiça – faliu. A Caixa Econômica Federal (financiadora do projeto) e a Prefeitura do Rio de Janeiro não se entendiam sobre a quem caberia a responsabilidade dos estragos na ausência da construtora e, principalmente, quem arcaria com os valores para a execução dos reparos.
 
Segundo moradores locais, a falta de entendimento quanto a quem caberia a responsabilidade foi fruto do desentendimento político entre o governo federal, o estadual e a prefeitura. Problema este que, segundo eles, já está superado.
 
Olimpíada “pede” qualidade

A Vila do Pan foi inaugurada em 2007, na Avenida Ayrton Senna, na Barra da Tijuca (RJ). 
Os 1.480 apartamentos, divididos em 17 prédios, começaram a ser vendidos em 2005 e foram entregues aos proprietários após os jogos, quando os mais de 5 mil atletas deixaram o local. 
 
Os problemas na estrutura logo começaram a aparecer e a estimativa atual da Prefeitura do Rio é de que a reforma custe R$ 62 milhões aos cofres públicos. 
 
Para o diretor geral do Ilha Pura, Maurício Cruz Lopes, a comparação entre os dois bairros não é correta. “A Vila dos Atletas não guarda nenhuma relação com a Vila do Pan. Não existe motivo para essa comparação”, pontua. “A Vila do Pan parte de um conceito de alojamento. É uma obra simples, com uma construção barata, para abrigar os atletas”, emenda o diretor. 
 
Mais investimento
Maurício defende que os padrões de engenharia, construção e de acabamento da Vila do Pan são “infinitamente inferiores” do que os adotados na Ilha Pura.
 
Segundo ele, uma das evidências de que o problema do local foi oriundo da baixa qualidade da construção é que o solo em que o bairro está instalado é o mesmo em toda a região. “O solo de onde a Vila do Pan foi construída é o mesmo da Barra da Tijuca inteira. E nenhuma outra obra viveu a mesma situação de afundamento. Isso foi um problema de engenharia específico daquela obra”, diz, citando como exemplo a Península, bairro na mesma região.
 
O diretor defende ainda que há diferença no próprio nível dos eventos e que as Olimpíadas têm muito mais projeção e importância para o esporte, o que acaba influenciando no nível das instalações. “Agora estamos falando de Jogos Olímpicos”, compara.

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