Menu
Política & Poder

Lobista diz que Dirceu viajou 113 vezes em seus jatos em dois anos

Arquivo Geral

26/01/2016 13h00

Entre os anos de 2010 e 2011, o ex-ministro da Casa Civil (Governo Lula) José Dirceu usou 113 vezes os jatos do lobista Júlio Gerin Camargo, delator da Operação Lava Jato, totalizando 105 mil quilômetros percorridos, o equivalente a duas voltas e meia ao mundo.

Ouvido na sexta-feira, 22, pelo juiz federal Sérgio Moro – que conduz os processos da Lava Jato em primeira instância -, Julio Camargo afirmou que as horas de voo usadas por Dirceu foram abatidas de uma conta de R$ 1 milhão de propinas restantes a ser paga por ele para o ex-ministro por contratos na Petrobras.

“O saldo de R$ 1 milhão (de propina) entrou em uma conta de afretamento de aviões. O ministro se utilizava dois aviões que eram de minha propriedade. E isso representava um débito e era compensado nessa conta de R$ 1 milhão que ficou restante”, afirmou o empresário. Os dois são réus em processo por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa, envolvendo contratos da petrolífera.

O valor de R$ 1 milhão restante seria referente a um acerto de R$ 4 milhões que teria sido fechado com dois representantes da Diretoria de Serviços da Petrobras, que eram seus contatos diretos sobre o assunto “propina” na estatal: Renato Duque, ex-diretor indicado ao cargo pelo ex-ministro, e Pedro Barusco, o ex-gerente de Engenharia, braço direito de Duque. Ambos eram cota do PT no esquema de fatiamento político das diretorias da estatal, que incluía ainda o PMDB (que controlava a Diretoria de Internacional) e PP (Diretoria de Abastecimento).

Planilha de voos

Para provar o que diz, Julio Camargo apresentou ao juiz Sérgio Moro, no interrogatório de sexta-feira, uma planilha com os registros de voos, data, hora da partida e da chegada, período de voo e quilometragem, com identificação do passageiro “J.Dirceu”. Nesta segunda-feira, 25, o documento foi anexado ao processo penal em que Dirceu, Duque e Julio Camargo são réus – junto com outros envolvidos – pelo recebimento de propina da empreiteira Engevix.

São dois jatos, um Citation Excel PT-XIB e outro um Citation Mustang PP-EVG. o primeiro teria sido comprado por Dirceu em 2011 e devolvido, em seguida. O segundo consta como sendo propriedade da empresa Riomarine, do operador de propinas e também delator Mário Goes, segundo o blog O Antagonista.

Moro perguntou se era feita alguma simulação de pagamento para cobrir o abatimento das horas de voo dentro do caixa da propina. Julio Camargo explicou que era feito um acerto de contas mensalmente entre ele, o operador de propinas Milton Pascowitch, o irmão e sócio de Dirceu, Luis Eduardo, e seu assessor Roberto Marques, o Bob – os três, também réus do processo.

O magistrado pediu para Julio Camargo apontar se alguma vez Dirceu pagou pelo uso das aeronaves de Julio Camargo.

“Se não me falha a memória uma ou duas vezes foram pagos. Mas se o senhor considerar os inúmeros voos que foram feitos, diria para o senhor que foi muito pequena (as) parte (s) que foram pagos diretamente.”

Venda do avião

O Ministério Público Federal acusa Dirceu de ter comprado uma cota de um terço do jato prefixo PT-XIB, em 2011, por meio do operador de propinas Milton Pascowitch. Ligado à empreiteira Engevix, ele confessou, também na sexta-feira, 22, ao juiz da Lava Jato ter adquirido parte da aeronave para uso do ex-ministro.

“O denunciado Dirceu, de modo consciente e voluntário, no contexto das atividades da organização criminosa” teria dissimulado e ocultado a origem e a propriedade da parte de 33% dos Cessna Aircraft, modelo 560XL. “Quota parte essa que foi adquirida em favor de Dirceu por Milton, José Adolfo (Pascowitch) e Júlio Camargo, por intermédio das empresas Jamp e Avanti, com recursos provenientes dos crimes de cartel, fraude a licitação e corrupção praticados pelos executivos da Engevix, Hope e Personal, em detrimento da Petrobras”, registra a denúncia da força-tarefa da Lava Jato.

Os dois operadores de propina na Petrobras e delatores nos processos disseram que o negócio foi desfeito logo depois, e que apenas uma parcela do valor total de R$ 1 milhão foi paga. O dinheiro teria saído da empresa de Pascowitch, a Jamp Engenheiros Associados – usada para movimentar propinas – para Julio Camargo.

Com o fim da transação, Julio Camargo teve que devolver a primeira parcela paga. Foi só então que ele diz ter tomado conhecimento do suposto envolvimento de Dirceu no negócio. “Milton que comprou a aeronave pela Engevix e me cobrou com o nome do doutor José Dirceu, a devolução do valor que ele tinha pago.”

O lobista, que representava no Brasil os interesses da japonesa Toyo Engineering Corporation e também de algumas brasileiras, como a Camargo Corrêa, Setal e UTC, disse que decidiu vender uma cota da aeronave por não fazer uso constante dela. Pascowitch teria informando que a Engevix precisava de um novo jato, especialmente após a compra do Estaleiro Rio Grande (RS) – adquirido da Wtorre, outra investigada da Lava Jato, para construção de plataformas para a Petrobras, via Sete Brasil.

“Eu vendi uma parte desse avião, e se o senhor verificar, esse contrato de venda para a Engevix aconteceu em 7 de julho de 2011. Se o senhor pegar a tabela que eu vou lhe entregar o senhor vai verificar que os últimos voos do ministro, do ex-ministro, foram em junho de 2011, nessa aeronave”, afirmou Julio Camargo, com o documento entregue a Moro.

Mau negócio

“Se ele (Pascowitch) tivesse me dito que a aeronave era para o senhor José Dirceu eu não teria vendido. Porque isso já estava me causando inúmeros problemas. Porque toda vez que o senhor José Dirceu entrava no avião, aparecia o prefixo do avião e ‘doutor José Dirceu usando avião fretado, andando de jatinho para baixo para cima’. Aquilo deu uma visibilidade no avião que perdeu o seu preço, porque ficou rotulado como um avião do José Dirceu”, contou Julio Camargo.

Defesa

O advogado Roberto Podval, que defende José Dirceu, disse que está conferindo todos os dados relativos aos voos do ex-ministro chefe da Casa Civil do Governo Lula. O criminalista anotou que as informações sobre o número de horas de voo apontadas na planilha do lobista e delator Júlio Camargo não são exatas.

“Estamos checando esses dados e não me parece que são corretos. Não são corretos. Ainda estamos verificando voo a voo, é um pouco complexo, data por data, para onde foi, de onde foi, para podermos fazer essa prova. Mas já sabemos que não é isso. Pode até ter voado, mas com outras pessoas, outros lugares. Existem voos que sabemos não têm nenhuma relação com o José Dirceu. Estamos batendo voo a voo para saber o que exatamente diz respeito a ele. Esses voos (da planilha de Júlio Camargo) não são 100% de José Dirceu.”

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado