Manuela Rolim
O cenário não está favorável para os taxistas nem para os motoristas do Uber. E a disputa tende a se acirrar. A chegada de um novo aplicativo de transporte particular na capital, o WillGo, promete movimentar ainda mais esse mercado. Enquanto isso, os usuários são os únicos que comemoram o aumento da concorrência e a possibilidade de ter mais opções de escolha.
A insatisfação é geral. Ontem, um grupo de motoristas do Uber protestou no estacionamento do Estádio Mané Garrincha. Eles cruzaram os braços em todo o País e levantaram reivindicações contra as “baixas tarifas” do aplicativo, o excessivo número de novas ativações e “elevados descontos”.
O motorista Daniel Costa Torres, 32 anos, não paralisou os serviços, mas apoiou os manifestantes. “A tarifa é justa tanto para os funcionários quanto para os clientes. O problema é que a empresa desconta para ela. Se eles descontassem menos, não tinha ninguém insatisfeito. Além disso, a ativação de novos carros é crescente, o que não acompanha a demanda. Estou preocupado”, afirmou Daniel, que também é músico. Segundo ele, até o fechamento desta edição, não havia retorno sobre os questionamentos.
Desde janeiro prestando serviço para a plataforma, o motorista não negou que a presença de um novo aplicativo vai movimentar o mercado. “Se vier com a mesma força que o Uber chegou, o mercado vai sentir. Para o usuário, vai ser incrível. Para o motorista, também pode ser bom por ser uma nova opção de emprego. Quem tiver melhores preços e condições vai ganhar o cliente”, completou o músico.
O aplicativo a qual Daniel se refere é o WillGo. Previsto para operar a partir do próximo mês, o app já tem mais de quatro mil condutores cadastrados no País. Eles, ao contrário do que ocorre no Uber, não precisam pagar taxas sobre o faturamento das corridas, mas um valor fixo mensal, conforme o plano escolhido.
“Apostamos em vantagens para atrair a melhor frota e aumentar tanto a qualidade do serviço quanto a motivação dos profissionais”, explicou o diretor da WillGo, Gabriel da Silva.
Para os passageiros, a ferramenta oferece tarifas fixas, que não sofrem alterações por conta do dia, horário ou da demanda.
Movimento cai com a crise
Para Eduardo Nakao, 38 anos, taxista há três anos, o problema é antigo. “Desde que a crise econômica atingiu o Brasil, o movimento está fraco, caiu entre 50% e 60%. Além disso, a chegada do Uber nos afetou. Em relação ao reajuste das tarifas, acredito que não mudou muita coisa. Os passageiros entram no carro e até questionam o taxímetro, mas mostramos a tabela com os valores atualizados, e tudo se resolve”, relatou.
Eduardo disse ainda que procura manter um padrão de qualidade para não afastar os clientes. “Meu carro é novo, sempre está limpo e eu faço questão de tratar todos os passageiros muito bem. Infelizmente, tenho alguns colegas que eu, particularmente, não andaria no táxi deles. Ao mesmo tempo, vejo que muitos taxistas passaram a cuidar melhor do veículo depois que o Uber chegou. Eles estão se adequando”, concluiu o profissional.
Taxistas demonstram preocupação
A flexibilidade de categoria, modelo e cor de veículo e a opção de motos para entrega de documentos e objetos serão oferecidas pelo WillGo. Também há o recurso de agendamento de corridas, e os passageiros podem “favoritar” os profissionais. “Queremos que o País tenha um transporte particular acessível e de qualidade”, conclui o diretor da WillGo, Gabriel da Silva.
Questionado sobre o novo aplicativo, o Uber preferiu não se manifestar. A assessoria ressaltou que o tempo de espera por carro não teve alteração, mesmo com a manifestação. O Uber negou que qualquer profissional tenha sido desligado por estar protestando. “Os motoristas parceiros continuam ganhando a mesma porcentagem (80% para UberBlack e 75% para UberX) do valor pago pelos usuários por cada viagem pelo aplicativo”, declarou a assessoria.
Com a movimentação no mercado, os taxistas estão insatisfeitos. Recentemente, eles ganharam aumento de 16,23% nas tarifas, o que tem sido questionado pelos passageiros. Mas a categoria não coloca o reajuste como o responsável pela queda no número de corridas.
O JBr. procurou o Sindicato do Permissionários de Táxis e Motoristas Auxiliares do DF (Sinpetaxi), mas não conseguiu contato.
Nas ruas, os usuários comemoram. O estudante Petrônio Moreira, 24 anos, cliente do Uber, está ansioso para conhecer o WillGo. “Quanto mais opção, melhor. O Uber é rápido, barato e de primeira qualidade. Tem mais de um ano que eu não peço um táxi, o serviço é muito inferior. Os carros são sujos, e as corridas, caras”, opinou.
Ponto de vista
Para o economista César Bergo, a concorrência é sempre positiva, em especial para o consumidor final. No entanto, ele destaca a importância da regulação. “Os usuários desses aplicativos ficam desprotegidos. Se alguma coisa acontecer, eles não têm a quem recorrer. É um risco. Ainda assim, o serviço tende a ficar cada vez melhor com a chegada de novas opções. Vale ressaltar também que é uma concorrência desleal com os taxistas, que pagam licença para trabalhar e possuem os preços tabelados”, completou.