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Brasília

Ventania destrói casa e desabriga famílias na Vila Basevi

Arquivo Geral

08/10/2015 6h00

Ingrid Soares

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Casas destelhadas, árvores e placas caídas, fios expostos, falta de água e de luz. Foi assim que ficou a Vila Basevi, em Sobradinho, após o temporal da última terça-feira. Ontem, era possível ver com clareza os estragos provocados. 

Muitas famílias  tiveram as casas destruídas e ficaram sem moradia. Outras tentavam repor o telhado.  A moradora Maria da Penha Rodrigues, 51 anos, funcionária pública, relata que nunca havia presenciado uma chuva com tamanho poder de destruição. 

“Não achava que   passaria por isso. Aqui foi o telhado, mas teve gente que precisou  dormir no vizinho. Tivemos sorte de não ter acontecido nada pior. Foram os 20 minutos mais aterrorizantes da minha vida. Agora seguimos com a reposição e rezamos para que isso não ocorra novamente”, diz.

Ela calcula que o gasto com as telhas chegue a R$ 1,5 mil. O segundo andar da casa é alugado para uma outra família, que também passou por momentos de terror. A dona de casa Juliana Nunes, 20 anos,   tem uma filha de   seis meses e   tentou se proteger da chuva como pôde. “Fiquei debaixo de um colchão com a minha bebê. O forro começou a formar uma bolha e, de repente, cedeu. A casa ficou alagada, foi um desespero. Mas só saímos debaixo do colchão quando a chuva parou”, relata. 

Ela ainda cortou o pé em um caco de telha ao sair para ver o estrago e foi socorrida pelo Corpo de  Bombeiros.

Cicera Gomes, 39 anos, teve a casa interditada e foi abrigada em uma barraca da Defesa Civil.  Ela ainda cuida de três crianças e precisou contar com a bondade de amigos para alimentá-los.

Granizo surpreendeu vizinhança

O gelo decorrente da chuva de granizo ainda estava presente nas residências pela manhã – em algumas delas, chegava a 40 centímetros de altura. A aposentada Jucelina Trindade conta que,  quando chegou em casa, o portão estava tomado pelo gelo e foi preciso pulá-lo para entrar.  Depois, veio a constatação de  que a maioria dos cômodos estava  comprometida. 

“Nunca tinha visto nada parecido. Apareceram telhas e tampas de caixa d’agua que nem sabemos de onde saiu. O forro cedeu, as telhas voaram e os guarda-roupas, colchões e eletrodomésticos ficaram todos molhados. Passamos a manhã   tirando o granizo e tentando ver o que dava para salvar”, afirma.

A agricultora Maria da Gloria Silva, 33 anos, cozinhava o jantar quando a chuva começou. Nem ao menos os documentos ela conseguiu salvar. “Minha geladeira, meu fogão e tudo  mais ficaram tomados pela água e pelo gelo. Os meus documentos também ficaram todos molhados. Estou apenas com a roupa do corpo”, lamenta.

Única escola da região está fechada

A única escola da Vila Basevi também foi interditada, e cerca de 300 crianças ficaram sem aula. Os servidores da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil (Novacap) estiveram no local para avaliar a estrutura. 

A diretora da Escola Classe Basevi, Alexandra Rocha, conta que o colégio está destelhado e o que restou da laje foi alagada. Além disso, a parte elétrica está danificada e os vidros quebrados. “Está tudo estragado. Agora vamos esperar para ver o que vai acontecer, mas tem que fazer uma reforma urgente. Nossos alunos não podem ficar sem aulas”, completa Alexandra. 

Em um trabalho conjunto, outros órgãos estiveram presentes como a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF), a Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social (Sedhs), a Secretaria de Educação, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) e a Companhia Energética de Brasília (CEB).

Alguns agentes realizaram um levantamento socioeconômico para saber quais famílias precisariam de doações e abrigo.

Prioridade

O governador Rodrigo Rollemberg visitou algumas das casas danificadas e ressaltou que a reforma da escola será prioritária. “Viemos ver a situação e quais medidas podemos tomar para auxiliar os moradores. Também temos que recuperar a escola que foi muito degradada. A tragédia poderia ter sido muito maior. Graças a Deus que a chuva aconteceu em um momento em que não tinha aula e, com o apoio da comunidade e dos órgãos do governo, vamos recompor a cidade”, finalizou.

Incidente pode se repetir

Conforme balanço preliminar, o subsecretário de Proteção e Defesa Civil,   coronel Sergio Bezerra, afirmou que 114 residências foram destelhadas, sendo 51 na Vila Basevi e 63 na Fercal, em Sobradinho. “Essa chuva foi um evento de grande magnitude. O período chuvoso é uma época em que   desastres e acidentes acontecem de maneira mais intensa em função da água e do vento. Há uma possibilidade que esses eventos ocorram novamente, principalmente em locais mais carentes como o Sol Nascente e o Pôr do Sol, em Ceilândia”, conta o subsecretário.

Além do governador Rodrigo Rollemberg, a presidente da Câmara Legislativa do DF, Celina Leão,   esteve na região e anunciou uma campanha para ajudar as famílias.  A ideia é  arrecadar itens como material de construção para a reconstrução das casas, assim como roupas e utensílios domésticos.

Doação

Iniciando as ações solidárias, o Sindicato do Comércio Atacadista do Distrito Federal (Sindiatacadista-DF), em parceria com empresários do setor, fará hoje, às 9h, a entrega de mil telhas de amianto. A doação  será feita na antiga sede da Administração Regional da Fercal.

Roberto Gomide, presidente do Sindiatacadista-DF, declarou que a atitude faz parte do compromisso social dos empresários e da entidade. “Nossa primeira preocupação é a de proteger essas famílias, considerando que a previsão é de que a chuva intensifique nos próximos dias. Cada morador trabalhou com afinco para construir a sua casa e tenho certeza de que, para eles, vê-las nessa situação é desolador. Estamos contribuindo com uma parte, mas, se cada um puder ajudar, faremos uma grande diferença na vida dessas famílias”, considerou.

Especialista explica fenômeno

De acordo com a meteorologista Ingrid Monteiro Peixoto do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a chuva de granizo ocorreu em áreas isoladas, como Guará, Estrada Parque Taguatinga (EPTG), Cruzeiro, Sudoeste e Sobradinho. 

Segundo Ingrid, a chuva de gelo ocorreu por conta da interação entre o calor e a umidade da região amazônica, o que favoreceu a formação de nuvens do tipo cumulus nimbus, que são caracterizadas pelo crescimento vertical, podendo atingir altos níveis na atmosfera formando as pedras.  

Possibilidade de chuva

A metereologista conta que os ventos durante as chuvas alcançaram 48 km/h, com rajadas de vento significativas e capazes de derrubar árvores e formar redemoinhos. A previsão, no entanto, é de que não haverá mais queda de granizos ao longo da semana com a diminuição da temperatura. Para hoje, há possibilidade de chuva, e o céu pode ficar parcialmente nublado.

Entre amanhã e domingo, a previsão é de calor, céu claro a parcialmente nublado com névoa seca, com temperaturas que variam entre 32ºC e 37ºC.

Saiba mais

Outros incidentes decorrentes da forte chuva foram registrados no Distrito Federal na última terça-feira. 

No Guará,    houve   a queda de uma torre de telefonia instalada no topo do Edifício Consei. Uma padaria foi danificada. 

Em outro ponto da região, uma árvore caiu e um motociclista se acidentou, mas sem gravidade.

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