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Analice Nicolau
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“O câncer não é o fim da vida”, médica oncologista traz olhar mais humano para realidade de pacientes

Dra. Graziella Felippe é oncologista há 18 anos em Santa Catarina

Analice Nicolau

17/03/2021 8h00

Atualizada 18/03/2021 14h41

Câncer

Dra. Graziella Felippe

Existem coisas que nos assustam na vida. Descontrole na vida financeira, o fim de um relacionamento, perder o emprego, o diagnóstico de uma doença grave ou o luto. Para as duas últimas, associamos logo aos hospitais e médicos, mas nem tudo precisa ser um ponto final. Graziella Felippe é oncologista desde 2007 e dentre muitos diagnósticos, também guarda na memória diversas vitórias.

Já na faculdade de medicina, o pai dela foi diagnosticado com o tipo mais grave de câncer de pele, o melanoma. “Meu pai, que sempre levou uma vida bem descomplicada, ficou assustado com o diagnóstico. Durante o tratamento, ele entrou em um grupo de pesquisa, mas só havia 15% de chance de funcionar. A partir daquele momento, percebi a mudança no comportamento dele. Ele tinha tanta esperança de que iria dar certo que no final deu”, conta. Em 2011, depois de anos em remissão, ele foi novamente diagnosticado e desde então realiza o tratamento.

Grazielle conta que o plano inicial seria cirurgia cardíaca, mas isso a afastaria por muito tempo da família. E a solução para o problema apareceu de forma inusitada. “Durante o estágio, minha professora, que estava descontente com meus atrasos ao visitar os pacientes, me colocou na oncologia, pois o chefe responsável seria mais exigente e “me colocaria na linha”. Mas o que aconteceu foi que eu me apaixonei pelos pacientes, pela realidade da oncologia e pelo o que poderia doar naquele lugar”.

“Sempre tive esse jeito mais atencioso, de gostar de ouvir tudo o que meus pacientes tinham para falar e acredito que esse é meu diferencial na oncologia, pois muito mais do que receitar um tratamento, estou ali para aliviar as dores do corpo e da alma também. Além do paciente, a família também precisa ser acolhida”.

O câncer é a segunda maior causa de mortes por doença de brasileiros. De acordo com dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer) divulgados pela SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia). Em 2010, foram somados 489.270 casos de câncer no país. Para 2021, o Inca estima que o país terá 41 mil novos casos diagnosticados.

Mas a doença, que só de ouvir falar o nome já causa arrepios na maioria das pessoas, pode ser tratada de uma maneira mais humana. Durante a entrevista, Grazielle contou um dos casos que acompanhou.

“Acompanhei um paciente, com um dos médicos do hospital, que foi diagnosticado com câncer de pâncreas. Quando recebeu a notícia, a primeira pergunta feita foi quanto tempo teria de vida. A estimativa era de que ele teria até três anos, se fizesse o tratamento. Então ele saiu do hospital, vendeu tudo que tinha e passou os anos viajando e conciliando a rotina com o tratamento. Depois de três anos, ele voltou e fez a mesma pergunta, pois ele já tinha gastado quase tudo o que tinha e precisava saber o que fazer dali para frente. Seis meses depois da última visita ele faleceu”, contou.

“Algum tempo depois, a esposa dele apareceu, e naquele momento, ficamos preocupados se ela também teria recebido o diagnóstico da doença. Mas para nossa surpresa, ela foi nos agradecer, pois viveu os melhores anos da vida dela ao lado do homem que amava. É isso que me faz perceber que estamos no caminho certo”, completou.

Ainda segundo a médica, “houve uma evolução impressionante tanto no diagnóstico quanto no tratamento de casos oncológicos. Os avanços científicos e tecnológicos imprimiram uma nova perspectiva no combate à doença”, conta.

“A prevenção, o autocuidado e a informação ainda são os melhores remédios. Se as pessoas conhecessem mais da realidade, de que existem tratamentos eficientes, estudos e avanços científicos, elas não teriam tanto medo do diagnóstico. É claro que é um choque, mas esse não precisa ser o final da vida”, acrescenta.

E mesmo com a rotina agitada, Grazielle contou que isso não a impediu que o sonho de formar uma família fosse deixado de lado. “Eu me casei pela primeira vez e tive meus dois filhos mais velhos, de 21 e 11 anos. Mas, após a separação, tive a oportunidade de conhecer uma paciente muito especial. Na época, ela tratava um problema de coração e ficamos muito próximas. Na oportunidade, conheci o filho dela. Nos aproximamos, e descobrimos muitas coisas em comum. Logo depois que ela recebeu alta, tivemos a oportunidade de conhecermos melhor. Hoje estamos casados, e tivemos o meu filho mais novo, de 2 meses”..

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