Menu
Brasília

Fio Mara

Arquivo Geral

22/08/2016 13h07

Ceub ficou famoso por formar times com “coroas” que já haviam encerrado o seu ciclo nos grandes times. Mesmo assim, os caras chegavam por aqui e ainda aprontavam, casos do meia Cláudio Garcia, ex-Flu, Odair Barchi, ex-Atlético-MG, Dario Paracatu, ex-Palmeiras, Rildo, ex-Santos, e muitos outros. Mas, dessa turma veterana, o cara que mais mexeu com a galera foi o atacante Fio, imortalizado pelo então Jorge Bem na música“Fio Maravilha”, um balanço que incendiou o País num dos muitos festivais de música popular brasileira dos anos 70.

João Batista de Sales, o Fio, mineiro, de Conselheiro Pena, onde nasceu, em 19 de janeiro de 1945, era sempre um papo alto astral. Com aquele seu jeitão, sempre alegre, de “mineirinho come-quieto, quando ö técnico Raimundinho (Antônio Fabiano Ferreira) encerrava os trinos e a turma sugeria almoçar algum cardápio em moda na Asa Norte, Fio avisava logo: “O meu prato predileto é o fundo”.

Moreira, um meia que chutava mais forte do que tiro de canhão, as vezes, encarnava no Fio, ameaçando pesquisar a origem daquele apelido, pois sacaneava dizendo não saber se era fio de lã, condutor de eletricidade, e desfilava sacanagens. Fio sorria e respondia: “Não sei como surgiu, mas deve ser um fio filho do filho. Criação caseira, pois desde que nasci que deu sou um fio elétrico, jamais recapado”. Nílson Nélson, Jorge Martins e Sérgio Oliveira, Adílson Peres (presidente que não perdia um treino) e Carlos Romeiro (supervisor) riam, e Fio ainda ria muito mais do que nós todos. Era uma graça, o cara.

O Flamengo foi o clube que lançou Fio para o sucesso, lhe dando a primeira chance como titular em1967, quando “O 10 de Ouro da Gávea”, Walter Machado Silva, foi para o futebol europeu. Alguns o achavam um craque, outros um cabeça-de-bagre. Mas o que importava mesmo eram as suas jogadas malucas, que divertiam a galera. Fio curtia quilo tudo: “Desde os meus 16 anos de idade, quando comecei a perseguir a bola, lá na terrinha, jogando por um time chamado Juventus”, que eu era um divertidor. Era meia-esquerda, onde gostava de jogar, mas nem meia tinha”. Adílson Peres piscava um olho pra gente e soltava a gargalhada.

Fio apareceu no Flamengo, em 1961, levado por um tal de Deusdedt, que já havia levado o irmão Germano, e foi direto para o time infanto-juvenil. Carlos Romeiro, que lidava com documentos de jogadores ceubenses, me informou que Fio assinou o seu primeiro contrato em 1965, por dois anos, ganhando antigos CR$ 300 mil mensais, sem luvas, uma parcela que os jogadores ganhavam além do salário. Raimundinho, o treinador que caiu no Ceub por causa de desentendimentos com Fio, dizia que o peso ideal do atacante era 72 kg , pois media 1,74m. O certo era que Fio engordava com uma facilidade impressionante.

Fio era um jogador para ser curtido, não cobrado. Por isso, Adílson Peres exigia a sua escalação. Sem ele, a torcida chiava. Quem pegar os jornais de 1976 verá manchetes como : “Jogada maluca de Fio dá a vitória ao Ceub”. Um dia, disseram aotécnico Raimundinho que Fio era freqüentador assíduo dos sambões do Bancrevea, famosos na década-70 em Brasília. O treinador foi conferir, viu que era verdade e mandou seu pupulo para o banco dos reservas. Adílson Peres chiou. Dias depois, Raimundinho perdeu o emprego.

Fio dizia que tinha uma barca nos pés – calçava 43 – e que era capaz de fazer uma festa no Céu. “Não tenho santo de devoção, pra fazer a praça com a galera toda lá de cima”, brincava. Adorava música, cinema e verduras.

Segundo afirmava aqui em Brasília, Fio dizia que só não fora ídolo da torcida flamenguista mais cedo porque, durante o Torneio Rio-São Paulo de 1964, o técnico Flávio Costa achara que ele renderia bem pela ponta-direita. “Não deu certo. Só em 66, com Silva na seleção, tive outra chance, mas me tacharam de displicente. Discordo, pois o meu forte era a velocidade, disputando a bola na corrida. Não dava pra ser dorminhoco em campo”, defendia-se.

Fio dizia, também, que preferi ser marcado por defensores durões, que sempre iam de primeira, tentando ganhar a bola na força, usando o corpo. “Eram mais fáceis de serem driblados. Difíceis eram os caras que iam cercando, cercando, e roubavam a menina, na categoria, no primeiro descuido. Mas a bola amava mais o neguinho dela. Não tinha jeito de ser infiel”, botava todo mundo pra rir. Fio era uma graça.

    Você também pode gostar

    Assine nossa newsletter e
    mantenha-se bem informado