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Coluna do Aquiles

A troveira do encanto

Arquivo Geral

22/02/2017 7h00

Atualizada 15/02/2017 21h29

Compositora com músicas gravadas por cantoras e cantores, Cristina Saraiva lançou O Viajante (independente). Com diversos parceiros, dentre eles, Breno Ruiz, Renato Braz, Simone Guimarães e Rafael Altério, cada um com duas parcerias, Cristina compôs as treze letras do disco.

Justo agora, quando seu lirismo desponta ainda com mais encanto, e talvez por isso mesmo, Cristina decidiu-se por um voo no escuro. Ela que sempre deu suas canções para outros cantarem, dessa vez trouxe-as para si e cantou como ninguém cantaria – o canto exala suas verdades. Nunca é cedo para assumir compromissos mais sérios com a música.

Com voz frágil, cada sílaba é emitida cautelosamente, cuidando para fazer bonito, o que rola mais nos graves e médios do que nos agudos.

Foi nesse universo que Mario Manga, produtor, diretor musical e arranjador, técnico de som, de mixagem e de masterização, mergulhou em busca do que mais favoreceria o cantar de Cristina. Sente-se nitidamente o cuidado com que Cristina busca, preferencialmente, palavras com musicalidade própria.

O disco têm como fio da meada o sabor da roça sertaneja e suas cenas corriqueiras. Como, por exemplo, em “O Viajante”, de Renato Braz e CS (Braz que ainda participa cantando bonito como sempre uma das parcerias de CS com Simone Guimarães): “(…) Passo pela fronteira/ Rumo norte, novo chão/ Novo céu, nova aldeia (…)”. A elegância do violão de doze cordas de Webster Santos presta obséquios musicais às palavras, enquanto violão (Mario Gil), baixo (Cezinha Oliveira), flauta (Daniel Allain) e percussão (Rafael Motta), conduzem a moda de viola.

Ou em “Cantareira 2014/15” (Simone Guimarães e CS), Cristina divide o canto com sua parceira, cuja voz, com vigorosa emoção, achega-se bem à brandura do canto de Cristina. A introdução com violão e percussão, antecede o som marcante do violão de doze. Simone canta os primeiros versos: “(…) Água é mina, é semente/ Na mata a nascente/ Não pode morrer (…)”; Cristina, os seguintes: “(…) Olho meu poço caipira/ Que chora e suspira/ Deixado pra lá (…)”.

Ou ainda em a bela “Estrangeiro” (Breno Ruiz e CS), quando o piano de Breno conduz a melodia com intervalos inusuais. Mas Cristina, ao fim e ao cabo, sai-se bem cantando: “(…) Caí na vida/ Estrangeiro, passageiro/ Rumo a algum lugar (…)”.

“Tudo é silêncio/ Tudo é luar/ A noite é fria/ É bela assim” (…), assim começa “Pequenos Mistérios” (Rafael Altério e CS). As cordas ponteiam. A viola de dez cordas lampeja num intermezzo. Cristina canta feliz, certa de que sua missão de cantar deu certo.

Finalizando, peço licença para transcrever um trecho do que escrevi em 2010, ao comentar o CD Terra Brasileira, igualmente um belo trabalho, no qual as músicas de Cristina são interpretadas pela cantora Manuella Cavalaro: “Cristina Saraiva é troveira do encanto. Com seus versos, suas opiniões se tornam líricas; com suas metáforas, o real se faz presente e o fantasioso se revela nu e cru”.

Aquiles Rique Reis, vocalista do MPB4

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